Gasolina vai subir de preço 261x2q

Infelizmente não é só a gasolina. Como percebemos todos, a inflação, definida como a alta generalizada de preços de bens e serviços, voltou com força no Brasil e em boa parte do mundo. Revivemos filas nos postos de combustível nas vésperas dos reajustes, cena triste, que pensávamos que fazia parte do nosso ado hiperinflacionário, e que Vital Farias retratou em sua bela canção no início dos anos 1980. 6b453y

A inflação em 2021 foi superior a 10% e em 2022 a expectativa é que seja ainda mais alta. Levantamento da revista The Economist desta semana aponta que os agentes econômicos esperam inflação elevada na maior parte do mundo desenvolvido. Na vizinha Argentina, já a dos 60% ao ano. Na tentativa de contê-la, o Banco Central brasileiro elevou a taxa básica de juros para 13,25% a.a.

Mas a inflação é também, paradoxalmente, aliada das finanças públicas. É que os tributos sobem quase automaticamente na mesma proporção do aumento de preços, mas as despesas do governo, principalmente com previdência e com os servidores públicos, são rígidas, aumentando em intervalos longos. Não por acaso, o governo federal tem registrado expressivo superávit primário nos últimos meses e mesmo Estados em complicadíssima situação fiscal vêm colocando os compromissos em dia.

O outro lado, perverso, é o pesado sacrifício da população. Inflação representa um imposto regressivo, que reduz o poder de compra ao deprimir a renda real. O preço da gasolina e a revolta contra a Petrobrás, que acompanha as cotações internacionais, é apenas a ponta do iceberg de um problema muito maior. É claro que o governo pode instituir um tributo extraordinário para os lucros sem precedentes da empresa de petróleo e com essa receita subsidiar, por exemplo, os caminhoneiros e fornecer cupons de gás para os mais carentes. Mas o problema da inflação persistirá.

É incerto se a elevação dos juros será suficiente para contê-la. As expectativas inflacionárias são muito elevadas no momento e nesse campo elas tendem a se autorrealizarem, como fartamente conclui a macroeconomia moderna. A evidência demonstra que o papel do banco central é limitado, porque muitos agentes não acompanham os movimentos da autoridade monetária. Tempos difíceis.

Edilberto Pontes – Presidente do Instituto Rui Barbosa e Vice-Presidente do TCE Ceará.